O que hérnia abdominal?
A hérnia abdominal é um orifício (defeito ou “buraco”) na musculatura da parede abdominal pelo qual os órgãos intra-abdominais podem protruir. Estes defeitos ocorrem em áreas que são “naturalmente” fracas como: região inguinal (virilha); umbigo; linha média acima do umbigo ou em áreas de fraquezas – incisões ou cicatrizes – causados por cirurgias prévias. Os pacientes percebem uma hérnia abdominal ao identificarem um abaulamento (“bolinha”) localizado na forma do abdome causado pela protrusão dos órgãos intra-abdominais através do defeito ou anel herniário
Quais são os tipos de Hérnia?
As hérnias abdominais são classificadas de acordo com a sua localização e são principalmente encontradas na: virilha/região inguinal; umbigo; epigástrio (linha acima do umbigo); incisão de cirurgia.
Hérnia umbilical: pode ser ocasionada pelo fechamento imperfeito do anel umbilical – local de fraqueza na musculatura pela passagem do cordão umbilical. A maioria dessas hérnias são congênitas (pelo não fechamento adequado da cicatriz umbilical), ou seja, nascemos com elas e se manifestam durante a infância. Em crianças pode ocorrer o fechamento espontâneo do anel herniário até os 2 anos de idade, não necessitando de qualquer tipo de tratamento.
A região do umbigo representa um área de fraqueza na musculatura da parede abdominal e adultos também pode desenvolver hérnias nesta região. O aumento da pressão intra-abdominal causado principalmente pela obesidade, gestação, tosse crônica ou esforço abdominal excessivo são fatores que aumentam o risco.
Os sintomas consistem no aparecimento de uma abaulamento (“bolinha” ou caroço) identificado na cicatriz umbilical ou em torno dela, que aparece ou piora com tosse ou qualquer esforço físico.
Hérnia epigástrica: consiste em uma falha no fechamento correto da linha média ou fraqueza pela passagem de vasos sanguíneos pela musculatura. Essa fraqueza pode evoluir com o aparecimento de uma “bolinha ou caroço” na região do meio da barriga, acima do umbigo. Normalmente seu conteúdo é de gordura abdominal.
Hérnia incisional: são abaulamentos que ocorrem em locais de cicatrizes cirúrgicas. Ocorrem em aproximadamente 12% das incisões realizadas, sendo, então, relativamente frequentes. Podem surgir meses ou mesmo anos após a cirurgia. Ocorrem por falha na cicatrização dos tecidos musculares suturados (costurados) em uma cirurgia para fechamento do corte/incisão. Pacientes que fumam (tabagistas), diabéticos, obesos, desnutridos, com infecções nas feridas cirúrgicas e cirurgias de emergência são os principais grupos de risco para desenvolver estas complicações. As cirurgias laparoscópicas ou robóticas, porem serem realizadas por incisões menores, têm menor risco de desenvolverem hérnias incisionais.
Hérnia inguinal: também chamada de hérnias da virilha, é o tipo mais comum de hérnia abdominal. Ocorre principalmente em homens devido a falha no fechamento do canal por onde passa o testículo para a bolsa escrotal na infância e adolescência, ou devido a fraqueza da região da virilha, principalmente em pacientes mais idosos. Nos homens podem descer para região escrotal, podendo se transformar em grande volume. Apesar de menos comuns em mulheres, as hérnias da virilha apresentam risco de complicação (encarceramento/estrangulamento – necessitando de cirurgia de urgência). O desconforto/dor na virilha quando o paciente faz atividades físicas/aumento da pressão intra-abdominal é o principal sintoma. A dor pode irradiar para o testículo/bolsa escrotal. A medida que a hérnia aumenta de tamanho, o abaulamento (“bolinha”) na região inguinal pode passar a ser percebido.
Por que as hérnias ocorrem?
As hérnias (abaulamentos ou protuberâncias) ocorrem por haver regiões naturalmente enfraquecidas na musculatura da parede abdominal ou pelo não fechamento de condutos durante o desenvolvimento fetal (hérnias congênitas). Além disso, uma cicatriz cirúrgica representa uma fraqueza que pode evoluir com hérnia incisional. O envelhecimento dos tecidos que naturalmente ocorre com o passar da idade e o aumento da pressão intra-abdominal (decorrente de obesidade, gestação, etc) também contribuem significativamente para o aparecimento de hérnias abdominais.
Quais são os riscos e complicações de uma hérnia?
A complicação mais temida relacionada as hérnias é o estrangulamento dos órgão abdominais, especialmente do intestino, dentro da hérnia. Esta situação é uma emergência médica e o tratamento cirúrgico deve ser imediato. Com o estrangulamento ocorre uma interrupção do fluxo de sangue para o órgão o que leva a isquemia e necrose dentro de poucas horas. Em casos de estrangulamento o paciente apresenta dor localizada de forte intensidade e aumento de volume no local que não reduz/desaparece com o repouso. Além disso pode apresentar sintomas de obstrução do intestino – distensão/estufamento; vômitos e parada da eliminação de gases e fezes.
É necessário algum exame para diagnosticar hérnia ?
Na grande maioria dos casos, a história clinica associado ao exame físico são o suficiente para realizar o diagnóstico da hérnia, não havendo a necessidade de nenhum outro exame. Quando o médico fica em dúvida diagnóstica, exames de imagem podem ser necessários. A ecografia de abdome é o exame mais frequentemente solicitado, entretanto, a tomografia computadorizada pode ser importante principalmente para hérnias incisionais e para o planejamento cirúrgico.
Qual é o tratamento para as hérnias abdominais?
O tratamento das hérnias abdominais é essencialmente cirúrgico. Hérnias pequenas e assintomáticas podem eventualmente ser manejadas conservadoramente apenas com observação. Entretanto por se tratar de um defeito (”buraco”) na musculatura, a única forma de corrigir definitivamente uma hérnia é por meio da cirurgia. A cirurgia pode ser realizada da forma convencional (aberta por meio de corte) ou por laparoscopia (minimamente invasivo). O uso de faixas, cintos ou fundas geralmente é desaconselhado.
Como a cirurgia pode ser realizada?
Tradicionalmente a cirurgia para fechamento da hérnia era realizada apenas através de suturas (pontos) nos músculos. Entretanto, estas técnicas estão associadas excesso de “tensão” e apresentam risco de recidiva da hérnia elevado além de poderem estar associadas a dor pós-operatória. Atualmente, a utilização de prótese (tela) para fechamento da hérnia e reforço da musculatura (técnicas ditas “sem tensão”) são o “padrão-ouro”. A taxa de recidiva nas técnicas com utilização de telas é menor.
Cirurgia aberta ou por corte: ainda é a técnica mais utilizada nos dias atuais. As técnicas abertas ou convencionais apresentam como principais vantagens: pode ser realizada com anestesia local, técnica mais fácil de realizar, pequeno risco de complicações graves e custo menor. As principais desvantagens são o maior risco de complicações de ferida operatória (incluindo infecção), maior dor pós-operatória, maior tempo de recuperação e de retorno as atividades habituais.
Cirurgia Laparoscópica: consiste na realização da cirurgia por meio de pequenas incisões (“furinhos”). É insuflado um gás no interior do abdome do paciente com objetivo de criar espaço para que o cirurgião utilize pequenos instrumentos e corrija a hérnia com sutura e/ou colocação da tela. As grandes vantagens desta técnica são: recuperação mais rápida, menor dor, retorno mais rápido as atividades, menos complicações de ferida operatória. Entretanto, as principais desvantagens são: necessidade de anestesia geral, custos maiores, técnica mais difícil de realizar, maior risco de complicações graves.
A avaliação com um cirurgião experiente é fundamental para avaliar cada caso de maneira individual e definir qual a melhor técnica para cada paciente.
O que é uma tela cirúrgica?
Tela cirúrgica ou implante cirúrgico ou prótese se refere ao um material atualmente amplamente utilizado para o tratamento das hérnias da parede abdominal. São fabricadas com polímeros biocompatíveis desenvolvidos especialmente para este fim. Consiste em um dispositivo usualmente plano que lembra um pedaço de tecido, bem resistente, que será usado para reforçar os tecidos naturais do paciente. Normalmente são incorporados pelo organismo do paciente ficando ali de forma permanente (prótese). O uso de telas em cirurgias de hérnias abdominais diminui significativamente o risco de recidiva (volta da hérnia) e pode diminuir a dor pós-operatória. Entretanto, efeitos adversos do uso das telas têm sido relatados, como maiores complicações tipo seroma ou infecção. A avaliação individualizada junto ao cirurgião avaliando riscos e benefícios do seu uso é fundamental.
Quais são os cuidados após a cirurgia ?
A recuperação pós-operatória inicial é rápida, podendo o paciente ter alta no mesmo dia ou em até 1 dia de internação, dependendo do tipo e tamanho da hérnia. Os cuidados iniciais da ferida operatória seguem o padrão de como qualquer outra cirurgia: manter limpa e seca. Os pacientes normalmente apresentam dor/desconforto nos primeiros 3-7 dias após a cirurgia que vão diminuindo progressivamente. Recomenda-se evitar dirigir por 3-5 dias. O retorno as atividades habituais normalmente ocorre após 7-15 dias. Deve-se evitar atividades físicas mais intensas; levantamento de peso e exercício de abdominal por 4-6 semanas após a cirurgia. Estas orientações servem como um guia geral. Entretanto, a avaliação individualizada, incluindo idade do paciente, localização e tamanho da hérnia, tipo de cirurgia realizado são fundamentais para definir os cuidados pós-operatórios!