OBJETIVO: Avaliar se a cirurgia robótica para hernioplastia inguinal melhora os resultados pós- operatórios comparado à cirurgia laparoscópica convencional.
MÉTODOS: Estudo piloto (sem estudos prévios sobre o assunto em questão) , prospectivo, randomizado, no qual o paciente desconhecia a técnica utilizada. Os pacientes foram operados entre abril de 2016 e abril de 2019, em seis hospitais diferentes dos EUA. Todas as cirurgias foram realizadas por cirurgiões experientes tanto em cirurgia laparoscópica convencional como robótica .
Dos 102 pacientes randomizados, 54 foram submetidos a procedimento laparoscópico convencional e 48 submetidos a procedimento robótico. Todas as cirurgias realizadas pelo método TAPP. O acompanhamento do paciente foi realizado em 7 dias (+- 3 dias) e um mês (+- 1 semana). Nos procedimentos laparoscópicos a tela foi fixada com tackers e o peritônio fechado com o mesmo dispositivo. Nos procedimentos robóticos a tela foi suturada e peritônio fechado com suturas.
Os pacientes foram submetidos no pré- e pós- operatório a avaliações de dor, qualidade de vida, mobilidade e qualidade cosmética da cicatriz. Os cirurgiões foram avaliados através de questionários sobre qualidade de trabalho e ergonomia. Foram também comparados custos da cirurgia.
RESULTADOS: Os dois grupos de pacientes eram semelhantes entre si, exceto pelo IMC que era ligeiramente Menor no grupo robótico (24,9 vs. 26,9; P=.01). As hérnias eram semelhantes em tamanho e localização entre os grupos.
Segundo a Escala Visual Analógica, a dor foi similar entre os dois grupos após uma semana (4.60 vs 5.53; P = .86) e um mês do procedimento. Qualidade de vida (medida através do SF-36) foi similar também entre os grupos. Os questionários sobre saúde, avaliação física e mental também foram similares entre os grupos. Os critérios para avaliação do aspecto estético da cicatriz também foram semelhantes nos dois grupos.
Em relação ao cirurgião , existe um nível maior de frustração no grupo robótico segundo o questionário NASA- TLX (32.7 [23.5] vs 20.1 [19.2]; P = .004) . Além disso existe um esforço maior do cirurgião no grupo robótico (36.7 [23.3] vs 27.4 [24.1]; P = .05).
Em relação à ergonomia, os resultados foram semelhantes entre os 2 grupo através do questionário RULA. Em relação à morbidade os resultados foram semelhantes em relação a eventos adversos (9.3% vs 16.7%; P = .37) , infecção superficial do sítio cirúrgico (1.85% vs 0%; P > .99) , drenagem purulenta da ferida (1.85% vs 0%; P > .99) e retenção urinária (1.85% vs 2.08%; P > .99) . Os custos foram maiores no grupo robótico , incluindo custo total ($3258 [$2568-$4118] vs $1421 [$1196- $1930]; P < .001) e custo de sala cirúrgica ($1401 [$1234-$1933] vs $879 [$714-$1052]; P < .001) .
COMENTÁRIOS:
Por se tratar de um estudo piloto, foram realizadas várias análises sem ideia prévia de estatísticas em cirurgia de hérnia inguinal por via robótica. Deste modo, não havia também um objetivo claro em relação a uma pergunta a ser respondida.
Em relação a dor, existe uma diferença na técnica utilizada (fixação da tela e fechamento do peritônio com grampos no grupo laparoscópico) que poderia comprometer e causar maior dor nesse grupo em relação ao robótico, o que não se confirmou nos resultados.
De qualquer forma , para comparar-se os grupos adequadamente é interessante sempre o uso de mesma técnica e material nos grupos avaliados.Os custos foram maiores no grupo robótico , o que já era esperado. Uma parte disso se deveu ao aumento do tempo cirúrgico neste grupo.
Em relação à ergonomia e carga de trabalho do cirurgião os resultados são conflitantes em relação ao que se acredita. Segundo o mesmo, não existiu o benefício que se acredita no quesito ergonomia quando utilizado o robô. A carga de trabalho que foi considerada maior no grupo robótico provavelmente se deveu ao tempo cirúrgico maior que ocorreu nesse grupo durante o trabalho. O nível de frustração do cirurgião em relação ao procedimento também foi um dado conflitante ao que se acredita atualmente.
Por se tratar de um estudo piloto, com poucos pacientes, provavelmente várias análises mudem conforme o passar do tempo novos trabalhos surjam. Ainda acreditamos em nosso grupo que a cirurgia robótica é indicada em casos de hérnias inguinal recidivadas quando a cirurgia prévia foi por via pré- peritoneal, em casos de hérnias grandes, cirurgias prévias no abdômen inferior, além de pacientes nos quais a anatomia da região inguinal está distorcida.
Confira o artigo na íntegra: Robotic Inguinal vs Transabdominal Laparoscopic Inguinal Hernia Repair The RIVAL Randomized Clinical Trial
Análise feita pelo Dr. Rodrigo Garcia: Cirurgião Geral e do Aparelho Digestivo, com experiência em cirurgia laparoscópica. Atuação e pesquisa em cirurgia de hérnias da parede abdominal e aceleração da recuperação em pós-operatório de cirurgias abdominais.
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica
Diretor de Cirurgia Geral da Sobracil – SP
Membro da American Hernia Society e Sociedade Brasileira de Hérnia